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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Música em Setembro

Meus caros, desculpem-me a demora para a produção desse novo texto! Por vezes necessito concentrar-me em fatos emergenciais e, essa última semana foi mesmo difícil. Mas setembro está sendo um mês incrivelmente bem aproveitado para encher meus ouvidos de outros e muitos sons.
Fui a vários espetáculos musicais e sobre todos eles tenho alguma coisa a dizer...
Começo com o João Bosco, no dia 11 de setembro... ele e seu violão no Teatro da caixa! Foi lindo de ver, bom demais de ouvir. O homem é um mestre no improviso vocal e um super compositor! Mas isso todo mundo sabe. Ele trouxe para o público curitibano um espetáculo com canções mais conhecidas, tocou só uma mais re
cente, Tanajura do " Não vou pro céu, mas já não vivo no chão". http://www.joaobosco.com.br/novo/disco.asp?dsc=0

Tocou Jade, Coisa Feita, Kid Cavaquinho, Bala com Bala, Bijuterias, Siri Recheado e o Cacete... ele meio que foi pinçando as músicas a esmo, mas estava ótimo! No programa, nenhuma lista, apenas um texto dizendo que neste show ele oferecia ao seu público um rol de canções significativas à sua carreira, de outros compositores e que fizeram sucesso nas vozes de artistas que ele admira... todas releituras memoráveis que mereceriam estar registradas num trabalho de intérprete do artista.
Entrei excitada e felicíssima por ter conseguido os dois últimos ingressos para o espetáculo... aos poucos fui me adequando ao clima intimista do concerto, mas como fã de carteirinha, não poderia deixar de me manifestar entre uma canção e outra com algo mais e além do aplauso...  Ele falou pouco, mas quando o fez nos levou ao riso... contou memoráveis histórias da carreira, como seu encontro com Tom Jobim, Chico Buarque e  João Gilberto, entre outros.
O espetáculo acabou rápido demais, apesar de que ele notoriamente se estendeu no programa.
Fez   duas canções no bis... se bem que Papel Machê ele poderia ter dispensado, já que tinha tocado a novamente midiática, não menos intrigante, Bijuteria...  saí de lá feliz demais.

No domingo seguinte, 18, Badi Assad. Ela e violão também. Não precisou de mais nada. A artista encheu o palco do SESI...
De pés descalços e violão em punho, a mulher se agigantou, como de costume. Essa foi a terceira vez que a assisti. Sua simplicidade e sua musicalidade incontestável,  saudaram o público com um espetáculo de primeiríssima qualidade!!! Ela cantou suas composições, uma maioria inspirada na filha Sofia (6). Suas harmonias aliadas à independência rítmica da mão esquerda, quando somadas a melodias ornamentadas com sua particular e criativa performance percussiva  (estalidos labiais, linguodentais, respiração e emissões vocais inusitadas) resultam numa sonoridade vibrante, envolvente e cativante... quem não conhecia ficou meio bobo... e o teatro estava até bom de público. Ela foi ovacionada por mais de três minutos... nesse tempo ela permaneceu em atitude de reverência e gratidão... coisa incomum e boa de ver num artista. Taí uma mulher que eu admiro mesmo!!! Uma artista do mundo que merece todo respeito, pela ousadia criativa que a faz originalíssima, pela simplicidade e facilidade com que executa peças de altíssima complexidade e enfim pela atitude de respeito com aqueles que estão ali para assistir, ver e ouvir a sua música. Saí de alma lavada...
http://www.badiassad.com/2009/badiassad.php?language=pt

na sequência vou escrever sobre os três espetáculos que assisti nos 10 últimos dias: João Egashira e Nicolas Krassik, Fabiano O Tiziu, e Vocal Brasileirão! Aliás já estou escrevendo, devo postar nos próximos dias.
Deixo os links das páginas do João e da Badi pra que vocês possam ouvir um pouco... saudações musicais!!!

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

" ...a primeira lira que animou todos os sons..."

Uma das canções mais lindas que eu ouvi na vida é de dois brasileiros. Ela me comove tanto e me fala tão alto no coração que eu fico com uma sensação de flutuação durante o tempo todo em que ela percorre o tempo/espaço da audição. Sei lá como explicar... mas de nada adiantaria explicar coisa alguma, porque a sua percepção deve ser diferente da minha. Uma questão de subjetividade.
Mas vamos ao Choro Bandido de Edu Lobo e Chico Buarque. A pimeira das 10 mais no meu hit parade!!! e não sei se ela perde esse posto tão cedo... mas o que será que nela me absorve tanto??? ah...ouçam aí e tirem as suas próprias conclusões antes de lerem as minhas, logo abaixo...
                                              http://www.youtube.com/watch?v=L1UH93AhhN0


Um falso cantor, nobre operário da palavra, apaixonada e miseravelmente conduz à poesia pura que baila numa melodia que qualquer um que compõe música, adoraria ter feito. (Tem um vídeo do Tom Jobim e do Chico Buarque falando bem disso... o Tom era um dos apaixonados pela canção... e como não seria???)


Mas que choro bandido é esse??? Um choro bandido... o que é? ... uma espécie de saudade infinda???

Uma história de amor muito bem vivida num falso, mas intenso romance.
A beleza, nesse mundo aonde a música teria surgido, numa permissividade declarada a toda e qualquer manifestação de amor na poesia das canções, se faz presente e aconchegante... e, ainda que os amantes tentem negar e fujir, baladas os seduzem... assim, tudo se torna belo e bom, no hedonismo erótico das paixões.
E o poeta, aquele que é um fingidor e que sábia e intuitivamente enxerga até mesmo onde não há uma só réstia de luz, seduzido pela aventura carnal que propicia a escuridão,  vê-se exatamente aonde o prazer realmente acontece e revela-se, no ato secreto do amor.
A bondade e a beleza, entoadas na voz de quem finge não ver, nem ouvir, nem entender mas se entrega inteiramente à elegia dessa excitante transgressão, no canto íntimista e transparente do cantor, gozam plenas.
As notas surdas que ganham vida, nascidas de uma lira que gera, além de todos os sons,
a inspiração dos poetas cantores que, entre arroubos de ternura e de paixão, vivem seus amores... errados ou não, eles sempre serão bons!!!
nem vou falar mais nada...

Que viagem...  nunca isso tudo me fez tanto sentido quanto nesses dois últimos dias!

Agora, segue a letra original do poeta Chico Buarque para a melodia do Edu Lobo, ao seu bel prazer, meu caro e nobre leitor,

Choro Bandido

Mesmo que os cantores sejam falsos como eu
Serão bonitas, não importa
São bonitas as canções
Mesmo miseráveis os poetas
Os seus versos serão bons
Mesmo porque as notas eram surdas
Quando um deus sonso e ladrão
Fez das tripas a primeira lira
Que animou todos os sons
E daí nasceram as baladas
E os arroubos de bandidos como eu
Cantando assim:
Você nasceu para mim
Você nasceu para mim
Mesmo que você feche os ouvidos
E as janelas do vestido
Minha musa vai cair em tentação
Mesmo porque estou falando grego
Com sua imaginação
Mesmo que você fuja de mim
Por labirintos e alçapões
Saiba que os poetas como os cegos
Podem ver na escuridão
E eis que, menos sábios do que antes
Os seus lábios ofegantes
Hão de se entregar assim:
Me leve até o fim
Me leve até o fim
Mesmo que os romances sejam falsos como o nosso
São bonitas, não importa
São bonitas as canções
Mesmo sendo errados os amantes
Seus amores serão bons

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Eu e meu ouvido

Caros leitores, hoje resolvi falar mais de mim do que qualquer outra coisa. O que me motivou a fazer isso foi um aluno que depois da aula me perguntou se eu gostava mesmo dos concertos de música contemporânea que eu o havia levado (com sua turma) para assistir. Eu nem titubeei e respondi que sim., porque gosto mesmo. Aprendi a gostar. Bom, ele, pelo jeito, tem um longo processo pela frente... pelo menos foi sincera a sua manifestação de desprezo por aquilo que ele acredita que não gosta. Eu compreendi porque fui um pouco como ele num determinado momento da vida. Vim pra casa pensando em como foi o meu processo até chegar nesse lugar tão favorável à audição musical de toda e qualquer espécie. Agora tento me explicar, mas, para isso, faz-se necessário um percurso meio longo que é o que percorri até aqui. Tentarei ser breve... e ir ao ponto crucial da pergunta do garoto da faculdade.
Há não sei bem quanto tempo comecei a frenquentar concertos e espetáculos musicais. Foi quando cheguei em Curitiba que tomei mesmo gosto pela música, pelo palco, pelos artistas brasileiros. Minha família, muito musical, sempre me ofereceu aos ouvidos o melhor da música nacional e internacional. Minha mãe, uma afinadíssima cantora que decidiu, infelizmente, ser dona de casa, mãe e esposa... meus tios todos cantavam, compunham, vocalizavam, meu pai era um apaixonado pela música brasileira, também cantava e como um bom carioca se virava muito bem na percussão. Nossa casa vivia repleta de músicos e amigos que adoravam música. E do maxixe ao samba, do choro ao samba-canção, da Bossa Nova à Tropicália  e à Jovem Guarda, tudo caiu no meu ouvido.  Isso inclui Elizeth Cardoso, Tito Madi, Noel Rosa, Tom Jobim, Silvio Caldas, Vinícius, Chico Buarque, Tom Zé, Edu Lobo, Elis Regina,  João Bosco e tantos outros... quase tudo nas vozes familiares dos meus pais e tios, nas muitas e boas festas que aconteciam quase todo final de semana, lá em Santo André.
Claro que na dolescência eu desviei desse caminho e fui curtir uns pops... mas eu gostava do Bee Gees, que salvas as devidas proporções estéticas, se refletiu no meu trabalho com O Tao do Trio ( rsrs o Vicente Ribeiro não vai gostar da comparação). Fui muito fã da Rita Lee, da Marina Lima que na época era só Marina... da Cor do Som, a Década Perdida quase me absorveu... Cazuza e o Barão Vermelho, Lobão e Titãs... o "nascimento do rock nacional" como o conhecemos hoje... meio pop ainda, mas na época era no Cassino do Chacrinha... e Caetano, Gal, Gil eram pops...
Bom, dos estrangeiros, sempre Beatles, Rolling Stones, Elvis Presley, os Jackson Five, os Carpenters, Aretha Franklin... mas minha paixão mesmo foram Pink Floyd, Led Zeppelin, Genesis, Jethro Tull, Frank Zappa... essa fase foi a mais radical. Disso tudo e sei mais o que que eu consumia, passei ao universo da Música Erudita. De cara Carmem de Bizet. Não foi fácil aprender a gostar de ópera. Os primeiros concertos eruditos eram obrigação da faculdade. Depois prazer... me apaixonei por Debussy, enjoei de Strauss e de Vivaldi de tanto que ouvi, me assutei com Luciano Bério... ri desembestada da minha primeira vez com Cage e seu silêncio e seus pregos e parafusos no piano preparado, sonhei que era a escandalosa e autoritária rainha da Flauta Mágica, me surpreendi com Wagner, chorei com Villa Lobos e Bach... sentia mesmo alegria de ouvir a velha e a nova música ocidental em sua magnitude e beleza distinta.
Muito disposta estudar violão clássico, mas não tão disciplinada para me tornar uma instrumentista e com um ouvido cheio de música de toda essa gente que mencionei, entre concertos, Lps e fitas kassete com tudo o que eu ouvia, não demorou muito pra que eu me voltasse às cifras da canção brasileira me acompanhando às escondidas por horas e horas no meu quarto. Comecei a tirar as canções do Milton Nascimento, do Chico Buarque, dos Beatles que eu amava desde sempre e a sair por aí com meu violão debaixo do braço, fazendo graça e tirando onda de músico! rsrsr...  Fui estudar, não tinha outro jeito. Meio a meu modo intuitivo, mas fui. Fiz faculdade de música, filhos e tornei-me uma arte-educadora musical, aos poucos e  devagarinho vim construindo a cantora, ainda em processo... Conheci o jazz, o choro, a música de câmara, a ópera, o rock, a história da música ocidental, da mpb... e ainda estou conhecendo, claro... gastei muito com cds novos e relançamentos, hoje meu consumo já está mais cibernético... mas adoro ler encartes, ver quem toca o que e curtir de verdade... Mas a minha onda mesmo seria a música vocal, que entre Bee Gees, Beatles, Carpenters, Manhathan Transfers, não teve jeito, ela  me chamou... acho que a harmonia do canto dos familiares, dos sons da minha casa na infância foi a mais decisiva influência para essa escolha. Sempre contralto, minha função nos coros era sempre harmônica... eu adorava... ainda adoro. Passei pelo Abominável Sebastião das Neves, pelo Sala XV, pelo Cardápio, pelo Coral da UFPR e pelo Coral de Curitiba. Cantei de tudo. Fui backing vocal, corista de ópera... hoje sou Nimpha, uma tal d'O Tao do Trio e, do Vocal Brasileirão, uma contralto cotrariada em abstinência temporária!
Mas uma coisa é fato: antes de tudo isso aí (e tudo isso é nada ainda) eu sou mesmo público, plateia. E sorvo a música dos meus pares e dos meus ídolos e dos ícones emblemáticos da música histórica e atual. Sempre que posso eu me sento pra ouvir música. O importante é ouvir. Ouvir e perceber a graça de cada estilo e de cada artista que cai em minhas mãos e ouvidos. Quando um trabalho musical me chega eu ouço compulsivamente. A cada audição uma experiência nova. Espetáculos musicais são imperdíveis, imprescindíveis e vitais para alguém como eu. Um certo investimento de tempo e de dinheiro é necessário mas, quase sempre, o meu prazer de ouvir não pode ser evitado... quase um vício. Quase? Não. Um vício.
Não sei bem no que, nem como, nem por quê isso me faz bem.
O exercício de refletir sobre os fenômenos acústicos das peças musicais que me afetam é como um efeito retardado de prazer... uma espécie de ressaca do bem.... se isso não acontece, e confesso, é raro.... é porque não me tocou mesmo... Não que eu goste de tudo, já falei que não gosto. Não é isso. É só uma disposição pra conhecer que me move a ouvir coisas diferentes. Gosto de música caipira, de rock, de fandango, forró, samba, sonata, concerto, sinfonia, salsa, bolero... deixo os sons entrarem pelos sete buracos da minha cabeça como uma presença etérea. Não consigo ler e estudar com música... eu largo de estudar, óbvio, e paro pra ouvir. Uma maldição/benção que me tortura/alenta até mesmo quando durmo... eu ouço melodias e acordes que ressoam diuturnamente nos meus ouvidos. E não tem só a ver com memória não... é algo real, acontece de fato o tempo todo e que é físico sem ser.
Eu sei que, talvez, outras pessoas se sintam como eu, absorvidas pela orgnização musical engenhosa dos sons que saem das mentes e mãos alheias. Gosto de ouvir os arranjos, de intuir caminhos de condução para a melodia, de perceber as nuances até reconhecer possíveis citações e referências do compositor ou do intérprete e me surpreender a cada vivência... Com um pouco de atenção, a gente vai ficando craque e reconhece o traço particular de cada compositor, suas preferências cadenciais, linhas melódicas, cores de timbres instrumentais e vocais, até mesmo a reconhecer o som particular de cada instrumentista... só hábito de ouvir e saber o que, quem e como ouvir...
Não tenho fórmulas mágicas, apenas um conselho: Ouça de verdade. Exercite sua capacidade de enxergar os meandros arquitetônicos dos sons das músicas. Perceber beleza até mesmo naquilo que talvez você nunca se submeta a fazer, do tipo eu cantar axé, por exemplo... nada contra, mas eu curto fazer outro tipo de música... Há muitas músicas pra conhecer. Isso é o que me faz vibrar: nunca se esgotará a capacidade humana de organizar sons em coisa musical.
Na verdade esse blog é meio isso: acho que de tanto ouvir, agora eu resolvi falar... ruminando meias críticas embaçadas pela minha subjetividade, eu sigo ouvindo coisas pra poder verborragiar meus devaneios nessas mal traçadas linhas. Leia quem puder, concorde quem quiser, mas me intriga muito mais a argumentação de quem tem algo mais a declarar.  Sei de nada não... só que gosto de ouvir. Eterna aprendiz, sou eu, a Cris.
E ao meu aluno eu desejo uma boa viagem ao mundo dos sons que compoem as músicas que ele ainda há de conhecer...  E, como mencionou Maria Bethânia num recente DVD (aqui grotescamente parafraseada): A música é como perfume... -  ela te invade, entra, penetra sem que você possa resistir ao seu encanto e te aprisiona para o bem ou para o mal...
Agora vou ouvir Chet Baker... deu vontade... enjoy it!

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

os sentidos dos sons

Conheci o Zé Miguel Wisnik numa palestra aqui em Curitiba nos anos 80.
Comprei seu livro O som e o Sentido meses depois... ele vinha numa caixa com uma fita K7 que ainda existe aqui em casa... Lembro que na época, ainda estudante universitária, tive o meu primeiro susto estético abrindo a caixa do livro e colocando a fita pra ouvir. E mergulhei nos sons e nos vários sentidos que aquela provocação estética me propiciou. Devorei o texto. Quase estourei a fita. Meio sem a certeza de ter entendido alguma coisa, eu sabia que tinha gostado daquela sensação curiosa de prazer... percebi que não sabia nada da música do meu planeta, nem da música da minha aldeia. Me senti impelida a questionar muitas coisas, a ampliar o meu repertório e agir de modo a utilizar os sons e os seus sentidos de uma forma mais aprofundada na minha vida. Comecei a ouvir música no motor do ônibus que me levava pro centro da cidade... nas diferentes marchas: melodias... passei a ouvir a vida e a ecologia sonora do meu pequeno mundo e tudo o que nela havia. Fui mais feliz. Foi mais ou menos igual ao dia que coloquei meu primeiro par de óculos... tudo com mais nitidez, com nuances e texturas diferenciadas!
Já voltei inúmeras vezes ao livro e à fita K7... ainda recorro a eles quando necessito,  mas agora já tenho outra versão do livro com CD. Recomendo a audição e a leitura. Em tempos digitais encontrei essa preciosidade à disposição:



quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Música Brasileira e Mídia

Não é querer viver no passado não... Mas tem outro jeito??? Na época em que eu ainda subia em árvore, brincava de boneca e cantava cantigas de roda, a música brasileira que estava na mídia era aquela feita por Tom Jobim, Chico Buarque, Caetano Veloso, Tito Madi, Dorival Caymmi, Edu Lobo, Mutantes, Gilberto Gil, Elis Regina, Vinícius de Moraes, Rita Lee, Secos e Molhados, entre outros tantos...    e era a época da ditadura militar... havia uns artistas mais pops que incomodavam menos os políticos, mas sua exponencialidade jamais alcansou o nível desses que eu mencionei anteriormente, exceto Roberto e Erasmo, mas apesar de pops esses dois têm uma aura, um não sei quê que permitia, e ainda permite, seu trânsito entre a casta nobre da tal MPB.
Bom, falo isso porque é impossível hoje assistir a televisão nacional sem se deparar com um tipo de música que é qualquer coisa, menos algo que possa representar a cultura musical brasileira... e o pior é que isso está acontecendo aos montes, e faz tempo... as gravadoras têm jogado no mercado dezenas e dezenas de donos de música descartável, sem conteúdo algum, alíás, minto, com conteúdo sim, mas fraco ou de cunho duvidoso... O pior é que são  tratados como grandes feras... nada contra o desgosto musical de uns, nem a favor... isso sempre existiu, reafirmo... o esquema é mesmo esse: circulação de grana. A cada 10 artistas novos, ouso dizer que menos de 30% tem condição de ser analisado com critérios sérios do ponto de vista técnico musical e estético.
E aí vamos nós vivendo do passado... revisitando nossos célebres artistas ou criando coisas novas nos moldes do passado... com novos artistas redimensionando o bom e velho senso estético musical nacional... recriando...
Tem muita gente boa fazendo trabalhos fenomenais... todos escondidos do público e tendo como plateia somente músicos e entendidos... não vende, não toca... nem na tv aberta, nem no rádio...
Tem quem diga que isso é elitismo meu... que o povo não tem condições de fazer uma seleção criteriosa, que eu é que sou preconceituosa... e por aí vai... mas gente,  o foco está errado... paralaxe cultural... as pessoas não sabem ouvir... como saberão consumir música? E a indústria fonográfica se se adapta ao mundo digital, só se redefine para a manutenção de um velho padrão capitalista que não prioriza nada além do giro financeiro que promove com o lixo atômico sonoro que chama hoje, também, música brasileira...
(pausa indignada)
Salve, Salve e Vida Longa para Consuelo de Paula, Izabel Padovani, Ana Cascardo, André Mehmari, Carlos Careqa, Lula Queiroga, Sérgio Santos, Breno Tuiz, Rafael Altério, Lydio Roberto, Celso Viáfora, Zeca Baleiro, Rogéria Holtz, Arnaldo Antunes, Sérgio Albach, Roberta Sá, Arlindo Cruz, Flávio Lira, Chico Saraiva, André Abujamra, Ana Luiza, Álvaro Ramos, Barbatuques, Mundaréu, Hélio Brandão, Guinga, Chico Pinheiro, Guilherme Rondon, Fato, Mônica Salmazo, Luiz Tatit, Iso Fischer, Ana Toledo, Ná Ozetti, Mara Fontoura, Dante Ozetti, Zé Luiz Mazziotti, Vicente Ribeiro, Rosa Passos, Daniel Migliavacca, Swami Jr, Gabriel Grossi,Vitor Ramil, Alexandre Nero,  Fábio Cardoso, Sombrinha,  Davi Sartori, Céu, Melina Mulazani, Virgínia Rosa, Itaércio Rocha,  Marco Pereira, Mário Conde, Ceumar, Lucina, Glauco Sölter, Luhli, Rita Ribeiro, Mariana Leporace, João Egashira... me perdoem os que não foram citados...   todo mundo aí  não representa nem um décimo da riqueza criativa musical que temos neste país,  nossos inrtumentistas, cantores e compositores...sim, quase desconhecidos... à margem da indústria das mídias tradicionais que insistem em perpetuar seus valores, valiosos artistas são  ninguém para o grande público... uma heresia imensurável.
Existem às duzias, em todos os estados, em várias cidades... vários sotaques e estilos...
Abram seus ouvidos! Essas pessoas existem e as músicas deles também! Tudo na rede... fácil de achar... é só saber o que procurar! Mas... eis a questão! Alguém aí pode ajudar as pessoas a 'ver' esse outro lado da nossa música? Ou tudo vai ficar nisso mesmo??

Eu na blogsfera

Nasci em Santo André, SP, numa família de músicos populares. Aos 10 ganhei meu primeiro violão, mas dizem que cantei antes mesmo de falar... Sou cantora, professora universitária, produtora musical. Mas antes de tudo isso, uma apreciadora da música. Meus tios, mãe e pai foram a minha melhor escola musical... a faculdade e os amigos músicos, a segunda, mas não menos importante... nessa formação ainda em curso, ocorre que me tornei artitsta e professora de música... o que faz de mim uma eterna estudante...

Atualmente moro em Curitiba. Uma cidade de excelentes músicos, com uma maioria imensa e expressiva da nossa cultura musical totalmente fora dos holofotes midiáticos nacionais... ainda bem que em tempos de youtube, blogs, mídias sociais, esses artistas encontram espaço para a divulgação de seus trabalhos... e, ao menos no meio musical, muitos de nós são tidos como referência... prêmio pelo mérito de um trabalho sério e respeitável.  

Quando canto, minha escolha é a música brasileira, mas quando simples ouvinte, me permito a experimentação...  não me restrinjo ao meu ínfimo universo estético musical afetivo porque sei que há muito mais além disso. Não gosto de tudo, que fique claro, mas ouço antes de dizer se gosto, se não gosto... tem coisa que não dá para chegar até o final... não consigo... mas tento... e repito a audição... assim posso argumentar minha opinião e não deixá-la no vazio da subjetividade primária do gosto...

Espero que se divirtam com minhas elucubrações... e que não concordem comigo... afinal, nesse lugar sou eu quem expressa uma primeira ideia, só isso... o que você pensa é outra história!


sobre o som e o silêncio

Meus caros... eis aí uma questão importante no universo musical. Som e Silêncio. Velha e até monótona discussão no âmbito erudito dos entendidos, mas no mundo das pessoas comuns, talvez nunca tenha sido bem pensado, a não ser pela menção do fato em canções populares ingeridas sem muitas reflexões. Mas voltemos aos dois elementos musicais...
Eles parecem ter nascido um para o outro... um do outro...  ouso dizer que sem um, o outro é nada...
O som é movimento, vibração de um corpo no tempo e no espaço... é tátil, efêmero e quase sinônimo da sua fonte... por conta dos timbres que assume em sua grandiloquência...
Já o silêncio é a ausência da vibração sonora... até aí tudo bem... mas eu proponho agora: pare tudo, fique em silêncio... ouça o silêncio que presencia... agora tente descrevê-lo... mais uma vez...
Certamente, o que você ouviu não foi silêncio do jeito que o imaginamos costumeiramente: - ausência total de sons - mas uma complexa e engendrada teia de interferências sonoras externas a você e ao seu estado de atenção... se ficar atento pode ser que escute as interferências dos sons do seu corpo, respiração, coração, a língua na boca e outros tantos sons... além do seu pensamento, claro... que tem voz  -a sua voz-  que soa sem que as suas pregas vocais necessitem vibrar...
Esta questão é polêmica... e, nem câmera anecoica, nem toda a tecnologia anti-ruído das gravações musicais da era digital podem comprovar a efetiva existência de um silêncio absoluto aos nossos ouvidos. Ele é abstração? Invenção?
Nesse sentido, o silêncio mais se assemelha à quietude do outro do que à nossa própria. Se eu calo, silencio para o outro, mas não para mim... porque os pensamentos só são possíveis porque têm voz, ainda que nenhum músculo se mova para produzir alguma espécie de som...
Então, eu (re) proponho aqui um velho questionamento: existe o silêncio? John Cage experimentou... polemizou o assunto há décadas...


na falta da legenda segue tradução do texto que inspira esta postagem inaugural!!! About Silence


Quando eu escuto o que nós chamamos de música, isto me parece que tem alguém falando sobre os seus sentimentos ideias relacionamentos, mas quando eu ouço o som do tráfego eu não tenho essa sensação de que alguém está falando. Eu tenho a sensação de que o som está agindo. Eu amo a atividade do som. O que ele faz é ficar maior e mais quieto, mais alto e mais baixo, mais longo mais curto. O som do trânsito faz tudo que é preciso e não é necessário que ele me fale sobre alguma coisa. Nós não temos diferença  no espaço nós não sabemos onde um começa e onde o outro termina.  Então todas as formas de arte que nós pensamos, muitas delas estão no tempo e outras no espaço. Marcel Duchamp, por exemplo, nos faz pensar no tempo ou em música que não é uma arte do tempo, mas uma arte no espaço... ele fez uma peça que chamou de escultura musical composta de diferentes sons vindos de lugares diferentes e produzindo uma escultura que é sonora e que permanece, fica. As pessoas esperam ouvir algo que seja mais do que ouvir e algumas vezes dizem que ao ouvir entendem o significado dos sons. Quando eu falo sobre música o que vem à mente das pessoas é que estou falando sobre sons, o que não significa nada porque é mais uma coisa interna que externa. E aí as pessoas quando finalmente entendem o que estou dizendo perguntam:  vc está dizendo que são somente sons? Querendo dizer, de alguma forma que eles são inúteis. Eu amo os sons exatamente como eles são, não tenho nenhuma necessidade que eles sejam algo mais que isso. Eles não precisam ter nada de psicológico, eu não quero que o som finja ser um balde, ou o presidente, ou que ele está apaixonado por outro som...rsrs.eu só quero que seja um som.  Eu não sou burro, também. Há um filósofo alemão bem conhecido, Emanuel Kant, que diz que há duas coisas que não necessitam significar nada: uma delas é a música e a outra é a risada....Rsrsrs... Os sons  e a risada não precisam significar nada pra nos dar um prazer profundo. E  o som propicia a existência de algo mais, que é o silêncio. A experiência sonora que eu prefiro é a experiência do silêncio. Mas o silêncio hoje, quase em qualquer lugar do mundo é como o trânsito. Se você ouvir Beethoven ou Mozart, você vê que é sempre a mesma coisa. Mas se você ouvir o trânsito, será sempre algo diferente.


Assista ao concerto de 4' 33 " (John Cage), um pop da música contemporânea... rs
Ouve aí!!! Depois me escreve!!!

http://www.youtube.com/watch?v=zY7UK-6aaNA&playnext=1&list=PL8324C85166638966