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sexta-feira, 19 de agosto de 2011

os sentidos dos sons

Conheci o Zé Miguel Wisnik numa palestra aqui em Curitiba nos anos 80.
Comprei seu livro O som e o Sentido meses depois... ele vinha numa caixa com uma fita K7 que ainda existe aqui em casa... Lembro que na época, ainda estudante universitária, tive o meu primeiro susto estético abrindo a caixa do livro e colocando a fita pra ouvir. E mergulhei nos sons e nos vários sentidos que aquela provocação estética me propiciou. Devorei o texto. Quase estourei a fita. Meio sem a certeza de ter entendido alguma coisa, eu sabia que tinha gostado daquela sensação curiosa de prazer... percebi que não sabia nada da música do meu planeta, nem da música da minha aldeia. Me senti impelida a questionar muitas coisas, a ampliar o meu repertório e agir de modo a utilizar os sons e os seus sentidos de uma forma mais aprofundada na minha vida. Comecei a ouvir música no motor do ônibus que me levava pro centro da cidade... nas diferentes marchas: melodias... passei a ouvir a vida e a ecologia sonora do meu pequeno mundo e tudo o que nela havia. Fui mais feliz. Foi mais ou menos igual ao dia que coloquei meu primeiro par de óculos... tudo com mais nitidez, com nuances e texturas diferenciadas!
Já voltei inúmeras vezes ao livro e à fita K7... ainda recorro a eles quando necessito,  mas agora já tenho outra versão do livro com CD. Recomendo a audição e a leitura. Em tempos digitais encontrei essa preciosidade à disposição:



quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Música Brasileira e Mídia

Não é querer viver no passado não... Mas tem outro jeito??? Na época em que eu ainda subia em árvore, brincava de boneca e cantava cantigas de roda, a música brasileira que estava na mídia era aquela feita por Tom Jobim, Chico Buarque, Caetano Veloso, Tito Madi, Dorival Caymmi, Edu Lobo, Mutantes, Gilberto Gil, Elis Regina, Vinícius de Moraes, Rita Lee, Secos e Molhados, entre outros tantos...    e era a época da ditadura militar... havia uns artistas mais pops que incomodavam menos os políticos, mas sua exponencialidade jamais alcansou o nível desses que eu mencionei anteriormente, exceto Roberto e Erasmo, mas apesar de pops esses dois têm uma aura, um não sei quê que permitia, e ainda permite, seu trânsito entre a casta nobre da tal MPB.
Bom, falo isso porque é impossível hoje assistir a televisão nacional sem se deparar com um tipo de música que é qualquer coisa, menos algo que possa representar a cultura musical brasileira... e o pior é que isso está acontecendo aos montes, e faz tempo... as gravadoras têm jogado no mercado dezenas e dezenas de donos de música descartável, sem conteúdo algum, alíás, minto, com conteúdo sim, mas fraco ou de cunho duvidoso... O pior é que são  tratados como grandes feras... nada contra o desgosto musical de uns, nem a favor... isso sempre existiu, reafirmo... o esquema é mesmo esse: circulação de grana. A cada 10 artistas novos, ouso dizer que menos de 30% tem condição de ser analisado com critérios sérios do ponto de vista técnico musical e estético.
E aí vamos nós vivendo do passado... revisitando nossos célebres artistas ou criando coisas novas nos moldes do passado... com novos artistas redimensionando o bom e velho senso estético musical nacional... recriando...
Tem muita gente boa fazendo trabalhos fenomenais... todos escondidos do público e tendo como plateia somente músicos e entendidos... não vende, não toca... nem na tv aberta, nem no rádio...
Tem quem diga que isso é elitismo meu... que o povo não tem condições de fazer uma seleção criteriosa, que eu é que sou preconceituosa... e por aí vai... mas gente,  o foco está errado... paralaxe cultural... as pessoas não sabem ouvir... como saberão consumir música? E a indústria fonográfica se se adapta ao mundo digital, só se redefine para a manutenção de um velho padrão capitalista que não prioriza nada além do giro financeiro que promove com o lixo atômico sonoro que chama hoje, também, música brasileira...
(pausa indignada)
Salve, Salve e Vida Longa para Consuelo de Paula, Izabel Padovani, Ana Cascardo, André Mehmari, Carlos Careqa, Lula Queiroga, Sérgio Santos, Breno Tuiz, Rafael Altério, Lydio Roberto, Celso Viáfora, Zeca Baleiro, Rogéria Holtz, Arnaldo Antunes, Sérgio Albach, Roberta Sá, Arlindo Cruz, Flávio Lira, Chico Saraiva, André Abujamra, Ana Luiza, Álvaro Ramos, Barbatuques, Mundaréu, Hélio Brandão, Guinga, Chico Pinheiro, Guilherme Rondon, Fato, Mônica Salmazo, Luiz Tatit, Iso Fischer, Ana Toledo, Ná Ozetti, Mara Fontoura, Dante Ozetti, Zé Luiz Mazziotti, Vicente Ribeiro, Rosa Passos, Daniel Migliavacca, Swami Jr, Gabriel Grossi,Vitor Ramil, Alexandre Nero,  Fábio Cardoso, Sombrinha,  Davi Sartori, Céu, Melina Mulazani, Virgínia Rosa, Itaércio Rocha,  Marco Pereira, Mário Conde, Ceumar, Lucina, Glauco Sölter, Luhli, Rita Ribeiro, Mariana Leporace, João Egashira... me perdoem os que não foram citados...   todo mundo aí  não representa nem um décimo da riqueza criativa musical que temos neste país,  nossos inrtumentistas, cantores e compositores...sim, quase desconhecidos... à margem da indústria das mídias tradicionais que insistem em perpetuar seus valores, valiosos artistas são  ninguém para o grande público... uma heresia imensurável.
Existem às duzias, em todos os estados, em várias cidades... vários sotaques e estilos...
Abram seus ouvidos! Essas pessoas existem e as músicas deles também! Tudo na rede... fácil de achar... é só saber o que procurar! Mas... eis a questão! Alguém aí pode ajudar as pessoas a 'ver' esse outro lado da nossa música? Ou tudo vai ficar nisso mesmo??

Eu na blogsfera

Nasci em Santo André, SP, numa família de músicos populares. Aos 10 ganhei meu primeiro violão, mas dizem que cantei antes mesmo de falar... Sou cantora, professora universitária, produtora musical. Mas antes de tudo isso, uma apreciadora da música. Meus tios, mãe e pai foram a minha melhor escola musical... a faculdade e os amigos músicos, a segunda, mas não menos importante... nessa formação ainda em curso, ocorre que me tornei artitsta e professora de música... o que faz de mim uma eterna estudante...

Atualmente moro em Curitiba. Uma cidade de excelentes músicos, com uma maioria imensa e expressiva da nossa cultura musical totalmente fora dos holofotes midiáticos nacionais... ainda bem que em tempos de youtube, blogs, mídias sociais, esses artistas encontram espaço para a divulgação de seus trabalhos... e, ao menos no meio musical, muitos de nós são tidos como referência... prêmio pelo mérito de um trabalho sério e respeitável.  

Quando canto, minha escolha é a música brasileira, mas quando simples ouvinte, me permito a experimentação...  não me restrinjo ao meu ínfimo universo estético musical afetivo porque sei que há muito mais além disso. Não gosto de tudo, que fique claro, mas ouço antes de dizer se gosto, se não gosto... tem coisa que não dá para chegar até o final... não consigo... mas tento... e repito a audição... assim posso argumentar minha opinião e não deixá-la no vazio da subjetividade primária do gosto...

Espero que se divirtam com minhas elucubrações... e que não concordem comigo... afinal, nesse lugar sou eu quem expressa uma primeira ideia, só isso... o que você pensa é outra história!


sobre o som e o silêncio

Meus caros... eis aí uma questão importante no universo musical. Som e Silêncio. Velha e até monótona discussão no âmbito erudito dos entendidos, mas no mundo das pessoas comuns, talvez nunca tenha sido bem pensado, a não ser pela menção do fato em canções populares ingeridas sem muitas reflexões. Mas voltemos aos dois elementos musicais...
Eles parecem ter nascido um para o outro... um do outro...  ouso dizer que sem um, o outro é nada...
O som é movimento, vibração de um corpo no tempo e no espaço... é tátil, efêmero e quase sinônimo da sua fonte... por conta dos timbres que assume em sua grandiloquência...
Já o silêncio é a ausência da vibração sonora... até aí tudo bem... mas eu proponho agora: pare tudo, fique em silêncio... ouça o silêncio que presencia... agora tente descrevê-lo... mais uma vez...
Certamente, o que você ouviu não foi silêncio do jeito que o imaginamos costumeiramente: - ausência total de sons - mas uma complexa e engendrada teia de interferências sonoras externas a você e ao seu estado de atenção... se ficar atento pode ser que escute as interferências dos sons do seu corpo, respiração, coração, a língua na boca e outros tantos sons... além do seu pensamento, claro... que tem voz  -a sua voz-  que soa sem que as suas pregas vocais necessitem vibrar...
Esta questão é polêmica... e, nem câmera anecoica, nem toda a tecnologia anti-ruído das gravações musicais da era digital podem comprovar a efetiva existência de um silêncio absoluto aos nossos ouvidos. Ele é abstração? Invenção?
Nesse sentido, o silêncio mais se assemelha à quietude do outro do que à nossa própria. Se eu calo, silencio para o outro, mas não para mim... porque os pensamentos só são possíveis porque têm voz, ainda que nenhum músculo se mova para produzir alguma espécie de som...
Então, eu (re) proponho aqui um velho questionamento: existe o silêncio? John Cage experimentou... polemizou o assunto há décadas...


na falta da legenda segue tradução do texto que inspira esta postagem inaugural!!! About Silence


Quando eu escuto o que nós chamamos de música, isto me parece que tem alguém falando sobre os seus sentimentos ideias relacionamentos, mas quando eu ouço o som do tráfego eu não tenho essa sensação de que alguém está falando. Eu tenho a sensação de que o som está agindo. Eu amo a atividade do som. O que ele faz é ficar maior e mais quieto, mais alto e mais baixo, mais longo mais curto. O som do trânsito faz tudo que é preciso e não é necessário que ele me fale sobre alguma coisa. Nós não temos diferença  no espaço nós não sabemos onde um começa e onde o outro termina.  Então todas as formas de arte que nós pensamos, muitas delas estão no tempo e outras no espaço. Marcel Duchamp, por exemplo, nos faz pensar no tempo ou em música que não é uma arte do tempo, mas uma arte no espaço... ele fez uma peça que chamou de escultura musical composta de diferentes sons vindos de lugares diferentes e produzindo uma escultura que é sonora e que permanece, fica. As pessoas esperam ouvir algo que seja mais do que ouvir e algumas vezes dizem que ao ouvir entendem o significado dos sons. Quando eu falo sobre música o que vem à mente das pessoas é que estou falando sobre sons, o que não significa nada porque é mais uma coisa interna que externa. E aí as pessoas quando finalmente entendem o que estou dizendo perguntam:  vc está dizendo que são somente sons? Querendo dizer, de alguma forma que eles são inúteis. Eu amo os sons exatamente como eles são, não tenho nenhuma necessidade que eles sejam algo mais que isso. Eles não precisam ter nada de psicológico, eu não quero que o som finja ser um balde, ou o presidente, ou que ele está apaixonado por outro som...rsrs.eu só quero que seja um som.  Eu não sou burro, também. Há um filósofo alemão bem conhecido, Emanuel Kant, que diz que há duas coisas que não necessitam significar nada: uma delas é a música e a outra é a risada....Rsrsrs... Os sons  e a risada não precisam significar nada pra nos dar um prazer profundo. E  o som propicia a existência de algo mais, que é o silêncio. A experiência sonora que eu prefiro é a experiência do silêncio. Mas o silêncio hoje, quase em qualquer lugar do mundo é como o trânsito. Se você ouvir Beethoven ou Mozart, você vê que é sempre a mesma coisa. Mas se você ouvir o trânsito, será sempre algo diferente.


Assista ao concerto de 4' 33 " (John Cage), um pop da música contemporânea... rs
Ouve aí!!! Depois me escreve!!!

http://www.youtube.com/watch?v=zY7UK-6aaNA&playnext=1&list=PL8324C85166638966