Meus caros... eis aí uma questão importante no universo musical. Som e Silêncio. Velha e até monótona discussão no âmbito erudito dos entendidos, mas no mundo das pessoas comuns, talvez nunca tenha sido bem pensado, a não ser pela menção do fato em canções populares ingeridas sem muitas reflexões. Mas voltemos aos dois elementos musicais...
Eles parecem ter nascido um para o outro... um do outro... ouso dizer que sem um, o outro é nada...
O som é movimento, vibração de um corpo no tempo e no espaço... é tátil, efêmero e quase sinônimo da sua fonte... por conta dos timbres que assume em sua grandiloquência...
Já o silêncio é a ausência da vibração sonora... até aí tudo bem... mas eu proponho agora: pare tudo, fique em silêncio... ouça o silêncio que presencia... agora tente descrevê-lo... mais uma vez...
Certamente, o que você ouviu não foi silêncio do jeito que o imaginamos costumeiramente: - ausência total de sons - mas uma complexa e engendrada teia de interferências sonoras externas a você e ao seu estado de atenção... se ficar atento pode ser que escute as interferências dos sons do seu corpo, respiração, coração, a língua na boca e outros tantos sons... além do seu pensamento, claro... que tem voz -a sua voz- que soa sem que as suas pregas vocais necessitem vibrar...
Esta questão é polêmica... e, nem câmera anecoica, nem toda a tecnologia anti-ruído das gravações musicais da era digital podem comprovar a efetiva existência de um silêncio absoluto aos nossos ouvidos. Ele é abstração? Invenção?
Nesse sentido, o silêncio mais se assemelha à quietude do outro do que à nossa própria. Se eu calo, silencio para o outro, mas não para mim... porque os pensamentos só são possíveis porque têm voz, ainda que nenhum músculo se mova para produzir alguma espécie de som...
Então, eu (re) proponho aqui um velho questionamento: existe o silêncio? John Cage experimentou... polemizou o assunto há décadas...
na falta da legenda segue tradução do texto que inspira esta postagem inaugural!!! About Silence
Quando eu escuto o que nós chamamos de música, isto me parece que tem alguém falando sobre os seus sentimentos ideias relacionamentos, mas quando eu ouço o som do tráfego eu não tenho essa sensação de que alguém está falando. Eu tenho a sensação de que o som está agindo. Eu amo a atividade do som. O que ele faz é ficar maior e mais quieto, mais alto e mais baixo, mais longo mais curto. O som do trânsito faz tudo que é preciso e não é necessário que ele me fale sobre alguma coisa. Nós não temos diferença no espaço nós não sabemos onde um começa e onde o outro termina. Então todas as formas de arte que nós pensamos, muitas delas estão no tempo e outras no espaço. Marcel Duchamp, por exemplo, nos faz pensar no tempo ou em música que não é uma arte do tempo, mas uma arte no espaço... ele fez uma peça que chamou de escultura musical composta de diferentes sons vindos de lugares diferentes e produzindo uma escultura que é sonora e que permanece, fica. As pessoas esperam ouvir algo que seja mais do que ouvir e algumas vezes dizem que ao ouvir entendem o significado dos sons. Quando eu falo sobre música o que vem à mente das pessoas é que estou falando sobre sons, o que não significa nada porque é mais uma coisa interna que externa. E aí as pessoas quando finalmente entendem o que estou dizendo perguntam: vc está dizendo que são somente sons? Querendo dizer, de alguma forma que eles são inúteis. Eu amo os sons exatamente como eles são, não tenho nenhuma necessidade que eles sejam algo mais que isso. Eles não precisam ter nada de psicológico, eu não quero que o som finja ser um balde, ou o presidente, ou que ele está apaixonado por outro som...rsrs.eu só quero que seja um som. Eu não sou burro, também. Há um filósofo alemão bem conhecido, Emanuel Kant, que diz que há duas coisas que não necessitam significar nada: uma delas é a música e a outra é a risada....Rsrsrs... Os sons e a risada não precisam significar nada pra nos dar um prazer profundo. E o som propicia a existência de algo mais, que é o silêncio. A experiência sonora que eu prefiro é a experiência do silêncio. Mas o silêncio hoje, quase em qualquer lugar do mundo é como o trânsito. Se você ouvir Beethoven ou Mozart, você vê que é sempre a mesma coisa. Mas se você ouvir o trânsito, será sempre algo diferente.
Assista ao concerto de 4' 33 " (John Cage), um pop da música contemporânea... rs
Ouve aí!!! Depois me escreve!!!
http://www.youtube.com/watch?v=zY7UK-6aaNA&playnext=1&list=PL8324C85166638966
2 comentários:
Curioso! Nunca me dei conta de que o silêncio não existe. Existem sim, aons silenciosos, como a brisa, como o mar roncando ao longe numa madrugada vazia em casa de praia que não é de frente pro mar. Como a voz do pensamento, sempre te dando conselhos ou te tentando... hahaha. Os sons que estão longe dos meus ouvidos já satisfazem minha necessidade de silêncio. Cansada do barulho da TV, fecho a porta e fico aliviada, finalmente, silêncio! De saco cheio de uma música chata, desligo o rádio, finalmente, silêncio! Mas realmente, o conceito em si, com o significado que conhecemos, de ausência absoluta de sons, ou pausas sonoras, é apenas um conceito que na prática, só conseguiríamos reproduzir se morássemos num vácuo. Onde tem ar, tem matéria, tem som. E que tal ouvir "The Sound of Silence" do Simon and Gardunkel? Beijos.
Professora Cris atingindo seus objetivos. Adivinhe qual foi o assunto do jantar na casa dos Lemos Zagonel? O SILÊNCIO, em todas as suas formas!!!!
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